FOGÃO A LENHA

Fogão a lenha

Hoje acendi o fogo.


Não é meu costume. Meu fogão a lenha não passa de um móvel qualquer na cozinha, praticamente sem uso. Por isso, eu mantenho distância. Não vejo motivo para ficar perto dele. Meu fogão a lenha não passa de uma espécie de balcão, onde coloco alguns objetos sobre sua tampa.

Na verdade, meu fogão a lenha exerce muito pouco sua verdadeira função: aquecer.

Meu fogão a lenha é frio, próprio das coisas feitas de ferro, que absorvem muito o nosso calor, mais do que a madeira, que é aconchegante e quente por si só.

Hoje acendi o fogo.

Fonte: O autor.

Aos poucos me senti atraído por aquele calor, aquela energia que provinha do mesmo móvel de ferro que antes eu mantinha distância.

Diante do fogo, perto do calor, me sinto bem. Sinto-me acolhido e acompanhado.

Cada pedaço de lenha que eu coloco é a garantia da continuidade do fogo e a garantia de mandar o frio para longe.

Quando eu demoro um pouco para colocar mais lenha, o calor diminui. E assim, eu fico observando este fogo que transforma a lenha em calor, em energia, em vida, em aconchego, em companhia.

Às vezes, nós seres humanos somos como o fogão a lenha sem fogo, sem energia, sem calor, sem vida, sem utilidade para os demais, sem motivo para que os outros fiquem perto. 

Ainda bem que, às vezes, encontramos algumas pessoas que são como o fogão a lenha aceso. Pessoas que nos atraem por sua energia, que nos fazem sentir aconchego, que nos fazem querem se aproximar. Pessoas de bem, que deixam transparecer sua energia sem a necessidade de impor uma bondade falsa, de pessoas que se dizem do bem e que na verdade não passa de puro moralismo sistêmico.

Ainda bem que, às vezes, encontramos pessoas que são como a lenha, que alimentam nosso fogo vital e possamos também ser como o fogão a lenha aceso, a fim de aproximar as pessoas!



#calor, #aconchego, #energia


Por Rubie José Giordani

Professor de Matemática e Informática

Especialista em Matemática

Técnico em Informática

 




Conheça meus livros em:


Leia também o texto "Frio e sensação térmica", disponível em: https://rubieautor.blogspot.com/2018/06/frio-e-sensacao-termica-os.html

A MATEMÁTICA NA AGRICULTURA

Por Rubie José Giordani
Professor de Matemática
Especialista em Matemática
Técnico em Informática

A Matemática na Agricultura

Não há como pensar em Matemática sem relacioná-la também com os fenômenos da natureza. O homem, muito antes da construção das pirâmides no Egito, um dos símbolos da aplicação da Matemática na engenharia há quase 5 000 anos, já fazia o uso desta Ciência para controlar as inundações do rio Nilo observando as estrelas, que anunciavam as cheias dependendo da posição de certas constelações no céu. Como este ciclo se repetia e as plantações às margens do rio Nilo ocorriam em determinadas épocas no intervalo destas repetições, já naquela época foi possível estabelecer um calendário muito parecido ao usado atualmente. Outras evidências da utilização de processos matemáticos nos primórdios é o controle dos rebanhos que se fazia através de marcações em ossos, pedaços de madeira ou montes de pedrinhas.

Atualmente, listar as inúmeras aplicações da Matemática seria exaustivo, por que ela está em toda a parte. Por isso, aqui o enfoque será a sua aplicação em algumas atividades básicas desenvolvidas na Agricultura.


Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/paisagem-natureza-colza-campo-3369304/

Iniciando pelo preparo da terra, desde a interpretação da análise do solo até o cultivo, a Matemática é imprescindível para determinar as quantidades de insumos, sementes, defensivos, horas de máquinas e combustível necessários para a implantação de uma cultura, além de outros cálculos que permitem satisfazer a curiosidade. Por exemplo, se para corrigir a acidez do solo são necessárias 5 toneladas de calcário por hectare e a lavoura é de 8 hectares, então serão necessárias 40 000 kg de calcário para tornar o solo menos ácido. Em relação ao adubo, se são necessários 450 kg por hectare, então 3 600 kg deverão ser espalhados na lavoura.  As possibilidades de cálculos são diversas, por exemplo, é possível saber que é necessário 480 000 sementes para cultivar a área total já que em um saco de sementes há 60 000 e que isso é suficiente para um hectare. Através da estimativa da germinação que gira em torno de 90 %, calcular o número aproximado de plantas, no caso 432 000, que estão crescendo na medida em que os dias passam no calendário.

Na colheita, além da facilidade de medir a produção em sacas e transformar em kg ou toneladas, calcular a perda devido à umidade e impurezas maior que a aceitável para a comercialização e encontrar o valor recebido pela venda é possível calcular o número de grãos colhidos e dessa maneira entender a relação existente entre a quantidade de sementes lançadas ao solo e a quantidade de grãos cultivada. Para tanto, basta obter a massa em gramas de 100 grãos, multiplicar o número de grãos pesados pela produção total em kg e dividir pela massa dos 100 grãos e ao final multiplicar por 1 000, pois 1kg = 1000 gramas. Se 100 grãos possuem uma massa de 50 gramas, e a produção dos 8 hectares foi de 100 000 kg, então 100 grãos x 100 000 kg / 50 g = 20 000 x 1000 = 200 000 000 de grãos colhidos. Como germinaram 432 000 sementes, então 200 000 000 / 432 000 = 462,96 grãos, ou seja, a relação entre cada semente lançada ao solo e a produção foi de 1 para 462,96. Um rendimento alto, não é mesmo? Claro que nenhum agricultor precisa fazer este cálculo, mas a Matemática permite esta façanha.

Tirando os olhos do chão e direcionando-os para o céu, a Matemática pode ser usada para controlar a precipitação pluviométrica, que é de fundamental importância para saber o momento de irrigar. Pois, se a cultura necessita, por exemplo, de 400 mm de chuva em seu ciclo e esta quantidade natural de água não foi suficiente, será necessário calcular a água que deverá ou deveria ser aplicada de forma artificial para que não haja perdas na produção. Supondo que a chuva durante o ciclo da cultura foi de 350 mm, então, faltarão 50 mm, que corresponde a uma lâmina d´água de 50 litros espalhados em 1 m², logo, serão necessários 500 000 litros de água por hectare ou 4 000 000 litros (4 000 m³) de água na lavoura de 8 hectares. Por isso, a importância de preservar as fontes de água e construção de cisternas a fim de  armazenar a água da chuva para irrigar em momentos de estiagem ou precipitação insuficiente.

Usando um raciocínio semelhante é possível realizar cálculos para controlar as despesas e as receitas envolvidas na cultura. Por exemplo, se o custo por hectare for x, então para y hectares, basta multiplicar x por y. Simples, não é mesmo? A Matemática do dia a dia é assim: simples. Neste sentido, o controle permanente das despesas e receitas através de operações matemáticas elementares auxilia o produtor a administrar a propriedade e obter sucesso financeiro. Tabelas e gráficos também são ferramentas matemáticas que permitem acompanhamento, análise e comparação das despesas e receitas entre as safras, permitindo assim, a tomada de decisões que afetam positivamente os lucros.

Muito tempo passou desde o cultivo das terras egípcias até os dias atuais, o desenvolvimento da tecnologia facilitou muito o trabalho no campo, o aumento da produção é notável e os lucros mais animadores, mas a Matemática continua sendo uma ferramenta básica e ao mesmo tempo fundamental para o planejamento e manutenção das culturas, garantindo assim, a continuidade deste setor tão importante para a manutenção da vida humana na Terra.


O texto acima foi publicado na íntegra na Revista da Associação Gaúcha de Professores Técnicos de Ensino Agrícola em 2015.